Repositório Bibliográfico

Pérolas na Educação por Meios Virtuais

Resumo do artigo

Contexto: As restrições impostas pela pandemia de COVID-19 levaram ao rápido desenvolvimento e implementação de métodos digitais para o ensino de habilidades clínicas na educação médica. Esta revisão sistemática apresenta os benefícios, os desafios e a eficácia dessa transição.

Métodos: Foi realizada uma busca sistemática em seis bases de dados eletrônicas (SCOPUS, Medline, CINAHL, PsycINFO, ERIC e Informit) em 1º de outubro de 2023, com atualização em 1º de abril de 2024, para identificar artigos revisados por pares, publicados a partir de 2019, que utilizaram qualquer tipo de ferramenta digital (online ou não) para ensinar habilidades clínicas a estudantes de medicina (graduação ou pós-graduação) e que estivessem disponíveis em inglês. O principal resultado sintetizado foi a eficácia relatada dessas ferramentas digitais no desenvolvimento de habilidades clínicas. O risco de viés dos estudos incluídos foi avaliado com a ferramenta Quality Assessment With Diverse Studies (QuADS).

Resultados: Vinte e sete estudos, com um total de 3.895 participantes, foram considerados elegíveis para inclusão nesta revisão. As pontuações de qualidade com base na ferramenta QuADS variaram de 22 a 35, indicando qualidade média, e treze dos estudos eram ensaios clínicos randomizados. No geral, o ensino digital de habilidades clínicas apresentou resultados melhores ou comparáveis ao ensino presencial. Observou-se um efeito benéfico das ferramentas digitais nos resultados das avaliações, com uma meta-análise mostrando um aumento da diferença média de 1,93 (IC 95%: 1,22 a 2,64), embora com alta heterogeneidade estatística (I² = 97%, p < 0,001). O ensino digital também resultou em maior satisfação dos estudantes em muitos casos e, segundo um estudo, mostrou-se custo-efetivo.

Conclusão: O ensino de habilidades clínicas por meio de ferramentas digitais é uma alternativa importante ao formato presencial tradicional, que é intensivo em recursos e difícil de implementar durante uma pandemia. Esta revisão demonstra sua eficácia potencial para melhorar os resultados educacionais, a satisfação dos estudantes e, possivelmente, reduzir custos. No entanto, a integração de métodos tradicionais e inovadores de ensino digital parece oferecer a experiência de aprendizagem mais completa. Pesquisas futuras podem focar em estudos longitudinais para avaliar o impacto e a eficácia a longo prazo das diferentes modalidades de aprendizagem digital e híbrida na aquisição de habilidades clínicas e competências profissionais.

Autor do artigo
McGee et al
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Referências do artigo

McGee et al. (2024). Digital learning of clinical skills and its impact on medical students’ academic performance: a systematic review. BMC Medical Education, 24:1477. https://doi.org/10.1186/s12909-024-06471-2

Área temática
Educação baseada em competências em ambientes virtuais
Palavras-chave
Educação Médica de Graduação, Competência Clínica, Instrução Assistida por Computador, Desempenho Acadêmico, Aprendizagem
Como citar este comentário do artigo?

García Dieguez M. Comentário sobre a Habilidades Clínicas na Era Digital: Revisão Sistemática sobre o Impacto Acadêmico. [Internet]. Organização Pan-Americana da Saúde. Repositório Bibliográfico. Citado em: 10/07/2025. Disponível em: https://campus.paho.org/pt-br/repo/habilidades-clinicas-digital-revisao-sistematica-impacto-academico

Autor do comentário

García Dieguez M.
CEEProS Universidad Nacional del Sur

Recomendação de leitura

Este artigo é recomendado para docentes envolvidos na educação de profissionais de saúde que estejam avaliando o impacto das ferramentas digitais no ensino de habilidades clínicas, especialmente em relação ao desempenho acadêmico dos estudantes. Resume as evidências atuais pós-COVID-19 sobre o uso de recursos digitais (vídeos, módulos online, simulações, prontuários eletrônicos simulados etc.) para a aquisição de competências clínicas, principalmente em áreas como anamnese, exame físico, comunicação e raciocínio clínico. Fornece dados sistemáticos, comparativos e atualizados que podem embasar decisões curriculares, especialmente no desenho de modelos híbridos.

Conclusões principais

O estudo revisa sistematicamente 27 pesquisas (n=3895 estudantes de medicina) com diferentes metodologias (RCTs, estudos observacionais, métodos mistos), analisando o efeito de intervenções digitais no ensino de habilidades clínicas (anamnese, exame físico, comunicação, raciocínio clínico, habilidades procedimentais). Em geral, o uso de ferramentas digitais demonstrou:

  • Resultados acadêmicos em alguns estudos comparáveis ou superiores ao ensino presencial, embora com alta heterogeneidade estatística.
  • Aumento da satisfação dos estudantes.
  • Em alguns casos, maior retenção de conhecimentos e autoconfiança dos estudantes.
  • A aprendizagem combinada presencial-digital parece proporcionar os melhores resultados.

Principais limitações:

  • Alta heterogeneidade estatística e metodológica entre os estudos.
  • Diversidade de intervenções digitais, dificultando conclusões uniformes.
  • Pouca avaliação do impacto em habilidades manuais complexas.
  • Escassez de evidências longitudinais sobre efeitos sustentados a longo prazo.

Embora o artigo forneça um panorama robusto e atualizado, permanecem lacunas quanto ao impacto global sobre a competência clínica integral.

Mensagens para a prática

A principal utilidade prática deste estudo é incentivar o planejamento de cursos híbridos que combinem modalidades digitais e presenciais, pois:

  1. Fornece evidências atualizadas que justificam o uso de tecnologias digitais no aprendizado de habilidades clínicas específicas.
  2. Apresenta exemplos concretos de ferramentas aplicáveis (vídeos, módulos, prontuários eletrônicos simulados, videoconferências, etc.).
  3. Oferece argumentos para integrar recursos digitais em programas de competências clínicas e justificar investimentos institucionais em tecnologias educacionais.
  4. Serve como base para discutir o redesenho curricular pós-pandemia com as equipes docentes.
  5. Alerta sobre as limitações de certas ferramentas digitais no desenvolvimento de habilidades técnicas de alta complexidade (ex.: RCP, habilidades cirúrgicas).
  6. Direciona futuras linhas de pesquisa educacional, especialmente em modelos híbridos e na avaliação longitudinal de seus efeitos.

Como toda revisão, fornece referências primárias para aprofundamento em cada intervenção específica. No entanto, a heterogeneidade dos estudos incluídos sugere que os resultados devem ser interpretados com cautela e contextualizados conforme a realidade institucional.